Eu vinha a ler no metro e só quando acabei o capítulo e decidi guardar os óculos, me chamou a atenção uma voz feminina... porque era uma voz zangada com os amigos (ou com o namorado?) que a acompanhavam... dizia muitas coisas como se todo o mundo lhe devesse e ninguém lhe pagasse. Foi então que algo mais chamou a minha atenção. Do lado direito da rapariga e da carruagem onde ela estava sentada, uns olhos chamaram por mim... Olhei e vi um personagem. Não conseguia perceber se homem, se mulher. Os olhos de um verde água, completamente transparentes, como ainda não vi outros, tinham as pálpebras pintadas com risco castanho de lápis... a pele (extremamente estragada pelo acne) estava coberta por uma camada de base... os cabelos eram longos, (pelo ombros), bonitos e bem tratados, cortados completamente a direito, como eu própria usei durante muitos anos... Escuros: castanho escuro. O contraste com os olhos era qualquer coisa de maravilhoso. Abstraí-me da pele tão feia e tentava perceber se se tratava de homem ou de mulher, quando ele disse qualquer coisa à rapariga "zangada com o mundo". Pois. Ele. Um homem. Bonito demais para homem? não suficientemente bonito para mulher? Não sei. Sei que aqueles olhos são qualquer coisa de perfeitamente inimaginável... quero dizer, a cor! A quase ausência de cor devida à transparência... Como é que uns olhos tão pequenos, podem parecer tão grandes? Será que ele estava a usar lentes de contacto de cor? Porque é quase impossível alguém possuir uns olhos daqueles e andar a passear-se por Lisboa, assim sem mais nem menos, a horas de ponta, quando há tanta gente a roubar o que quer que seja que esteja à mão....
Saíram na Baixa-Chiado. Ele e a namorada vestiam estilo gótico, mas não muito pesado. Ela usava o cabelo liso mas entrançado com fitas de cor que contrastavam com o negro da roupa. Ele, todo de negro. Ambos de botas negras de militar!
Mas o que eu gostava mesmo era de saber onde ele foi arranjar aqueles olhos, por alá!
1 comentário:
Bonito texto.Como todos os que escreves.
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