10 janeiro, 2007

Por muito ruim que pareça!...


Há coisas a que só damos valor quando perdemos. Coisas que até poderíamos pensar que passaríamos muito melhor sem as mesmas. Estou a falar de lágrimas.
Pois é: as lágrimas. Durante anos perdi a capacidade de chorar. E foram anos terríveis, porque o que poderia ficar resolvido com uma boa sessão de choro a sério, ficava-me como um nó na garganta. E ficava dias e dias... impedia-me de respirar. Impedia-me de dormir. Impedia-me de viver! Cheguei a passar por situações de meses seguidos com o tal nó na garganta. É claro que nunca contei a ninguém, porque isso me obrigaria a falar de coisas tristes e as coisas tristes se ficarem guardadas no baú da memória, ficam muito bem aconchegadas... com o tempo esquecemos. E depois, um dia, por uma coisa qualquer voltamos a lembrar e volta a doer, mas já não é a mesma coisa. Não é já a mesma dor.
Pois bem: aqui há menos de dois meses, recuperei a capacidade de chorar. Foi a melhor prenda de aniversário que podia ter recebido. Voltar a sentir as lágrimas encharcar-me o rosto. Depois de horas a chorar, fiquei com a sensação de que tinha limpo os olhos e a alma. Pelo menos naquele momento. E desde esse dia não voltei a chorar. Não é que não tivesse tido motivos, mas seria pedir muito recuperar a capacidade de chorar por pequenas coisas. Por isso nestes dois meses não chorei.
Ontem, voltei a chorar. Enfiei-me no duche e chorei enquanto a água escorria pelo meu corpo. Lavagem completa: corpo e alma. Não sei quanto terei que pagar por isto, mas de certeza que é dinheiro bem empregue! Adormeci a chorar e não acordei com o despertador, porque me devo ter esquecido de o ligar, tão empenhada estava na minha sessão de choro.
É verdade que acordei tarde. Mas também é verdade que não me ralei nada com isso. Os horários hoje, deixaram de fazer sentido. Hoje levantei-me e não andei mais depressa porque estava atrasada. Mantive o meu ritmo de todos os dias e cheguei quando cheguei e saí quando saí e estive bem disposta o dia todo.
Chorar fez-me muito bem. Fazia-me falta. A razão que me levou a chorar não é para aqui chamada. De dor não falo por hoje. Sei que ela adormecerá rapidamente se eu a deixar sossegadinha e é o que eu tenciono fazer.
Mas mais uma vez, provei a mim mesma que não há nada na vida que não tenha um lado bom, por muito ruim que pareça!...

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