10 janeiro, 2007

Falar com uma voz mais forte...


Ao escrever falamos com uma voz mais forte do que a nossa. Isto diz Luís Sepúlveda em "O poder dos sonhos". Leio e parece que sou eu que estou a falar. Ele é muito mais velho que eu, vivemos realidades bem diferentes e, no entanto é como se fosse a minha alma gémea. Senti isto quando li o primeiro romance de Sepúlveda E a identificação parece cada vez maior. Ele diz coisas que são mesmo de verdade. São como eu as sinto...
Chovia hoje quando saí do metro e reparei que uma senhora com uma bebé ao colo ia sem guarda-chuva. Eu não uso tal ferramenta. Se pudesse proibia o fabrico e venda de tais armas. Já aqui o disse. Continuando: uma senhora que ia atrás delas (mãe e criança ao colo) abriu o seu guarda chuva e aproximando-se das duas, abrigou-as. Quando cheguei ao meu emprego, toda a gente protestava porque estava molhada e é claro que já não se espantam com a minha alegria pela água caída do céu. Então para parar com todo aquele protesto contei-lhes a cena a que tinha assistido e provei assim que a chuva é bendita, uma vez que aproxima as pessoas e desperta os seus melhores sentimentos. Levaram a coisa mais ou menos na desportiva... dando-me razão mas achando que o melhoir era mesmo que não chovesse enquanto estão na rua, desprevenidas sem os guard chuvas (malditos guarda chuvas!).
Pois no regresso a casa e pegando em "O poder dos sonhos" Sepúlveda diz-me exactamente o que eu tinha pensado de manhã. A chuva aproxima as pessoas, faz com que entrem em bares para se abrigarem e tomarem um copo de vinho e façam novos amigos, e por aí fora. E dá também o exemplo a que eu assisti, da partilha do guarda chuva.
Luís Sepúlveda só esteve com Pablo Neruda por três vezes. Eu não estarei nenhuma, com muita pena minha. Mas se algum dia tiver a oportunidade de estar com ele, sentada num café, conversando, ouvindo tudo o que ele tem para dizer, sentir-me-ei a mulher mais feliz do mundo. Porque este homem é um HOMEM! Ele tem a qualidade que eu mais aprecio nos seres humanos e que cada vez menos se vê: a coragem. E depois ainda consegue ser humilde, sonhador e falar de tudo como qualquer um de nós.
Para terminar quero aqui deixar o último parágrafo de "Negras reflexões" inserido em "O poder dos sonhos":
"Talvez seja justo ressaltar que há brancos, negros e «gente de cor». Mandela é negro, resplandecentemente negro, luminosamente negro: pelo contrário, Condolezza Rice, Bush, Wolfowitz, Cheney, Rumsfeld, Negroponte, Aznar, Berlusconi, Blair, Powell e Le Pen são «gente de cor». De cor duvidosa"

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo plenamente.