A morte não torna as pessoas melhores nem piores. Pelo menos para mim. O que foram, o que fizeram em vida é o que conta. E quando pensei que de hoje não passava, olhei para trás e achei que tenho feito muito pouco pelos meus semelhantes. Tenho que me tornar mais atenta... não estou a falar dos amigos, estou a falar das pessoas que passam por mim sem que eu as veja, sem que eu me dê conta se precisam ou não de ajuda. Tenho que me tornar mais atenta. Não posso prestar atenção apenas à beleza mas também aos que me rodeiam. A partir de agora vou fazer os possíveis por me tornar mais atenta... não quero volta a ter este sentimento de... nem sei que nome dar-lhe... arrependimento, não: é demasiado forte e não é coisa que eu use. Não importa o nome. Importa é que me torne mais atenta a partir de agora e pronto.
E estava a eu a pensar que não passava de hoje, completamente de gatas, quando recebo a notícia da morte do pai de uma amiga de infância, daquelas quase irmãs, com quem partilhámos os segredos de adolescência, daquelas a quem ajudámos a esconder dos pais o namorado, daquelas por quem fizemos o que podíamos e o que não devíamos.
Quando era miúda, lembro-me bem, gostava muito deste homem. Pessoalmente não tenho nada que dizer... só que depois de adulta soube de coisas tão horríveis a seu respeito que lhe perdi todo o respeito e tanto o evitei que há anos não o via. Quando era miúda pensava que era um homem branco, só depois soube que era de cor: e por sinal de uma cor bem feia.
Mas os filhos não sabem e é por eles que amanhã estarei no velório e no funeral. Porque fui muito amiga de ambos (ainda sou), uma vez que sou vizinha do mais velho que casou com alguém de quem gosto muito e que me visita frequentemente.
Mas do morto não me ficam saudades. Fica apenas a mágoa de ter descoberto tarde demais quem era e a incerteza do dever de contar ou não aos filhos o que ele fez. Mas agora prefiro que guardem uma boa memória do pai. O que não se sabe, não magoa.
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