Algumas palavras sobre a Índia, que tenho gravada no meu coração, para sempre.
Índia, aonde foi o Sr Presidente, Cavaco Silva, acompanhado de cerca de 60 empresários. A quem desejo boa sorte, mas sem grandes esperanças.
É que não é a primeira vez que os nossos empresários vão ao Oriente. Nos anos 90, foram, salvo erro, por duas vezes, à China, uma vez com Cavaco e outra com Mário Soares, e também à India, com este último. Tudo me permite afirmar que foram lá passear e que esta é a primeira viagem - segundo li na imprensa - que pagam dos seus bolsos. Até agora, os resultados são demasiado escassos.
Na década de noventa, foi criada uma linha de crédito, em Macau, para que os empresários investissem na China, sem que tivesse sido aproveitada! Macau era, sem dúvda, e ainda é, uma porta de entrada para a China. Mas não houve coragem para entrar, nem para ao menos bater àquela porta! Razões? Dizia-se que era muito longe, havia o problema da língua...É verdade,mas esses factores continuam a existir, e não me parece que sejam muito diferentes dos obstáculos que os chineses encontram para entrarem em Angola e eles lá estão. Por isso, Cavaco Silva tem razão quando apela à ousadia dos nossos empresários e afirma que estamos na Índia com grande atraso!.É verdade.
A Índia é um país muito, muito pobre. Pobre, mas incrivelmente belo. Adorei principalmente o Rajasthan, ou não fosse alentejano e amante do mar e dos desertos, de Agra, Jaipur, de Mandawa... Mas também de Goa, onde me apercebi da mágoa que lá deixámos, que vem do tempo de Salazar e do abadono vergonhoso com que deixou os homens, sem armas para combaterem, a quem, no entanto, exgiu que ganhassem a guerra, ou então que regressassem mortos! Sim, a mágoa ficou lá, e não foi ainda apagada, porquanto Portugal, mesmo depois do regime democrático, esteve sempre longe, longe, quer geográfica, quer espiritualmente, das suas gentes, que por lá ficaram. Por isso, não fiquei surpreendido com as manifestações que surgiram contra a presença de Cavaco, em Panaji, capital de Goa, as quais, embora pontuais e minoritárias, são um sintoma de um mal-estar que é real e que constatei pessoalmente quando lá estive, há cerca de dez anos.
Devo dizer-vos que Bombai ( ex-Bombaim ) foi a cidade do mundo onde vi a maior miséria da minha vida. A palavra pobreza é demasiado luxuosa para descrever as cenas de vida tão humilhante, suplicante e desgraçada, como as que vi em certos bairros da cidade, não sendo preciso, no entanto, a gente afastar-se muito de, por exemplo, um hotel luxuoso, como é o Thasmaal,para ver uma miséria muito superior à do Nepal, ou das Filpinas, e outros paises, que conheci, muito pobres, não, esse cancro existe de modo permanente, numa metrópole gigantesca, que todos os dias recebe milhares de seres humanos, até na avenida para o aeroporto, nas suas bermas,barraquinhas em filas intermináveis mostravam como era possível ainda aqueles viverem em condições tão arrepiantes.
No entanto, sabe-se hoje, que este país, que tem cerca de 1,2 mil milhões de habitantes, com 700 milhões a viverem no limiar da pobreza e 260 milhões a sobreviverem com menos de um dólar por dia, tem outra face que está a ser responsável pelo seu crescimento económico fortíssimo, de cerca de 9% ao ano, e que está a contribuir para o aparecimento progressivo de uma classe média cada vdez mais numerosa. É pois um país de profundos contrastes, aquele em que Portugal vai apostar, à procura de parcerias e de negócios, numa economia, localizada principalmente em Bangalore,que se baseia nas tecnlogias da Informação, negócios úteis para os dois países e dois povos.
Desejo sinceramente sorte aos nossos empresários. Repito que não estou muito esperançado. Cavaco apelou à audácia e ao espírito de aventura, à semelhança dos nossos antepassados de Quinhentos.Só que em Quinhentos, Portugal tinha o Know-how e hoje não tem.Pessoalmente fico na exectativa. Pode ser que, dez anos passados sobre as visitas de empresários ao Oriente, as lições tenham sido tiradas. Principalmente que novos empresários estejam lá, com o Presidente, diferentes daqueles que se habituaram no passado a viajar simplesmente. Que trazem nos bolsos, como diz Cavaco, muitos cartões, é verdade, pois é prática corrente nos encontros entre as pessoas nos países do Oriente ( eu tenho uma colecção imensa, e não sou empresário...). Mas não chega.
Noutra altura... falarei sobre a Índia, mas não por causa de negócios, não, mas porque, a despeito da sua miséria, é lindo, lindo, lindo...
Eduardo Aleixo
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