O Herói e Alice são dois filmes que vi ontem, ambos falados em português. Muitos de vós já viram concerteza Alice, que é baseado na história trágica de Rui Pedro, o menino que desapareceu há anos e, embora pareça até ter aparecido em fotografias em revistas do tipo "high society", a verdade é que nunca mais os pais o viram. Não é a primeira vez que falo aqui deste caso. Na verdade é um dos meus desconsolos, chegar ao fim de mais um ano sabendo da dor daquela mãe. Porque pior que ter um filho morto, é, sem dúvida, ter um filho desparecido. Um filho que não se sabe que horrores estará a passar, um filho que não se sabe se alguma vez se voltará a ver... embora eu pense que Filomena, a mãe do Rui Pedro tenha a certeza de que ela há-de aparecer um dia e que ela poderá abraçá-lo e beijá-lo. Mas nunca poderá fazer com que todos estes anos em que esteve desaparecido, sejam recuperados. Filomena e Rui Pedro são duas pessoas em que penso frequentemente com muito carinho e se tivesse alguma religião pediria por eles em todas as minhas orações. Como não acredito, penso que um dia o sofrimento desta mulher há-de acabar. E espero que acabe com o reencontro do seu filho, são e salvo e que ele possa esquecer algum dia, todos os anos que viveu fora do carinho da sua família, da paz e da segurança que esta mãe extraordinária lhe dedica.
Alice é pois a estória de uma menina desaparecida e da obssessão do pai em encontrá-la. É a estória da solidão deste pai que a pouco e pouco vai sendo abandonado à sua obssessão de encontrar a filha. Depois de colocar câmaras por toda a cidade de Lisboa e de visualisar centenas de vídeos ele julga ter reencontrado Alice. Mas não é Alice a menina que ele persegue pela cidade de Lisboa. E fica cada vez mais só, com uma mulher a quem o desepero empurra todos os dias para o suicídio. É a estória da obssesão de um homem para encontrar a sua filha e também a estória de milhares de pessoas que vivem na solidão embora no meio de multidões. A estória do atordoamento a que as pessoas se entregam para fingirem que não estão sós... é uma estória do dia a dia de Lisboa e das cidades como Lisboa. É uma estória vulgar, mas muito bem contada, muito bem interpretada, que me deixou um nó na garganta. E foi preciso deixar passar umas horas para vos poder falar do filme.
O Herói é o primeiro filme do realizador angolano Zezé Gamboa. Conta-nos a estória de Vitoriano, (interpretado por Oumar Makena Diop, um actor senegalês), um herói de guerra, que passou 20 anos a combater. Foi apanhado com 15 anos para fazer a guerra e quando esta estava praticamente terminada é apanhado por uma mina que o deixa sem a perna direita.
De regresso a Luanda e após meses de espera lá consegue uma prótese. Procura emprego por todo o lado, mas ninguém lhe dá uma oportunidade. Acaba por ser roubado numa noite de bebedeira (levam-lhe a prótese e a condecoração de guerra) e acaba por ir viver com uma prostituta que se apaixona por ele. Uma feliz coincidência faz com que conheça a professora Joana (Patrícia Bull) que tem amigos influentes e que com um simples programa de rádio faz com que ele recupere a sua prótese e assim, a sua liberdade. Pelo meio conta-se a estória dos cotidianos de Luanda, onde existe muita gente a trabalhar honestamente e muita outra a viver de esquemas, de roubos... contam-se também estórias de amor e de luta e de caracter... E muitas estórias de solidão, de adultos e de crianças.
Um filme que apanhei por acaso, ontem na RTP África e que me mostrou durante cerca de duas horas, imagens da minha terra. Um filme que me trouxe muitas saudades dos fins de ano com calor e dança até de manhã, quando caíamos esgotados na areia, depois de um bom mergulho no mar. Mas independentemente de tudo isto, um filme que não me lembro de ter visto anunciado no circuito comercial, apesar de ter ganho o prémio do júri para o melhor filme estrangeiro no festival Sundance de 2005 no EUA.
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