07 dezembro, 2006

Inicial


O dia não é hora por hora.
É dor por dor,
o tempo não se dobra,
não se gasta,
mar, diz o mar,
sem trégua,
terra, diz a terra,
o homem espera.

E só
seu sino está ali
entre os outros
guardando em seu vazio
um silêncio implacável
que se repartirá
quando levante
sua língua de metal
onda após onda.

De tantas coisas que tive,
andando de joelhos pelo mundo,
aqui, despido,
não tenho mais que o duro meio-dia do mar,
e um sino.

Eles me dão sua voz para sofrer
e sua advertência para deter-me.
Isto acontece para todo o mundo,
continua o espaço.

E vive o mar.

Existem os sinos.

(Pablo Neruda)

1 comentário:

Unknown disse...

É um poema
Que dá que pensar
Como todos os bons poemas.

Como todos os bons poemas
Tem de ser lido e relido..

Eduardo Aleixo