Estas palavras: " Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida..." pertencem por inteiro ao poeta António Gedeão, que faria cem anos no dia 24 deste mês.
Estas palavras foram das mais cantadas em Portugal, muito mais cantadas, por certo, do que os poemas de Camões.
Só que António Gedeão nasceu numa época em que as suas palavras tiveram a sorte de as circunstâncias históricas poderem pegar nelas e usá-las como ementa na bandeja de um sonho colectivo, já maduro, e prontas, por isso, para serem digeridas, saboreadas,percebidas...
Mas o poeta não era só poeta. Foi pedagogo. Cientista. E chamava-se Rómulo de Carvalho.
Rómulo de Carvalho, cientista e poeta: eis um casamento que, na época, era uma árvore madura para ele, mas ainda não para as consciências, que tinham do poeta uma imagem deturpada, muitas vezes depreciativa.
E hoje?.
Sim, em muita gente ainda, infelizmente. Quero crer que por ignorância.
A consciência da Humanidade vai no entanto abrindo...É assim que penso.
Estas palavras vêm, no entanto, a propósito de um artigo publicado em sua homenagem,no Diário de Notícias, do dia 24 deste mês, trabalho inédito e disponibilizado gentilmente pela viúva, D. Natália Nunes.
Versa sobre a sua concepção da História.
Por concordar com esta concepção decidi transcrever um pouco das suas palavras:
« Eu tenho sobe a história uma ideia que está longe de ser a mais frequente.Penso que, quem faz a história,não é o governo de uma nação.Sou eu, a vizinha do andar do lado e o merceeiro que está estabelecido com loja na esquina da rua.É o par de namorados que passa de lambreta ou o operário que vai para a oficina com a malinha do almoço.É o poeta, é o pensador, é o cientista, é tudo, toda a gente,a que sai e a que fica em casa,todos,todas,excepto os que compõem o governo.Esses só têm uma atitude permanente que é a de, atónitos, solucionarem,ou verdadeiramente ou falsamente,os problemas que lhes são impostos.»
A dita História, para ser verdadeira, o mais verdadeira possível, terá de contemplar a acção directa ou indirecta de todos os agentes da mudança social, cultural e civilizacional, e para isso todos contribuem.Por exemplo: como pode ser suficiente a História da Colonização, sem a História dos Colonizados?...Ou a História das relações israelo-árabes, sem a Historia que tenha em conta as Histórias dos dois povos?...
Outro exemplo, sobre o 25 de Abril: como pode haver uma História, sem as estórias que os oficiais milicianos sabem, viveram, pois lá estiveram, pelo menos 3 anos, obrigados a isso, aqui e em África, e muito contribuiram para o golpe de estado de Abril, e sabiam, desde o início que o golpe ia dar-se naquela data, tendo sido eles quem esteve, nos anos que antecederam o acto revolucionário, à frente dos quarteis, onde os oficiais do quadro nem apareciam, já fartos das comissões do Ultramar e daquilo tudo?!
Muitas estórias, sim.
Eu sei muitas.E posso dizer de algumas pessoas que estiveram em governos recentes e estão em lugares importantes em estruturas partidárias, gente que se ler, ou se lesse, este blogue, se lembraria, quer das palavras que escrevo, quer do nome que as subscreve.
Concordariam também, tenho a certeza, com as palavras de Rómulo de Carvalho sobre História.Sim, porque sobre as de António Gedeão, sempre concordaram, acho que ainda concordam...
Um dia eu conto...
Eduardo Aleixo
3 comentários:
O meu neto mais velho faz hoje 10 anos! Espero que nesta altura, já tenha compreendido, que o sonho é uma constante da vida! Eu tenho feito por isso, bem como toda a família linda que ele tem.
Um beijo mais aqui, para o Pedro (serás pedra...), e para o Eduardo que nos há-de contar muito mais estórias, como prometeu.
Parabens ao Pedro, com um beijo.
Eduardo Aleixo
Tens uns netos lindos, fantásticos!
Parabéns!
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