
Eu já nada sinto
e afinal 
eu gosto de não sentir nada 
sozinho na calma das horas passadas 
tão só numa outra quietude 
num sossego tão só sossegado 
e esquecido 
eu me esqueça de mim 
aos bocados 
adormece-me um sono dormente 
que aos poucos se apaga 
um sonho qualquer 
mas não me acordes 
não mexas 
não me embales sequer 
eu quero estar mesmo como eu estou 
quietamente 
ausente 
assim 
a viagem que eu não vou 
nunca chega até ao fim 
é longe 
longe tão longe 
que de repente tu chegas 
tu brilhas e luzes 
na cor das laranjas 
tu coras e tinges 
a mancha da marca 
na alma da luz 
da sombra que finges 
e tu já não me largas 
saudade 
tu queres-me tanto 
e se eu lembro 
tu mexes comigo 
tu andas cá dentro 
à volta do meu coração 
no meu pensamento 
também 
e por mais que eu não queira 
tu queres-me bem 
e desdobras os mundos em cores 
e levas-me pela tua mão 
cativando o meu corpo 
a minha alma 
a razão 
só a tua presença 
é que me inquieta 
aquela outra ausência 
dói 
como um passado projecta 
aquele futuro que se foi 
p'ra longe 
longe 
tão longe 
que nunca se acaba 
esta inquietação 
se evitas momentos 
já quase finais 
e ficas comigo 
ainda e sempre 
um pouco mais 
tu nunca me deixas 
saudade 
tu nunca me deixas
(Fausto)
 
 
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