27 setembro, 2006

O Bicho


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)

1 comentário:

Anónimo disse...

Lendo a " Ode no cinquentenário do poeta brasileiro ", poema dedicado a Manuel Bandeira, da autoria de Carlos Drummond de Andrade, inserido na sua Antologia Poética, poema que não reproduzo aqui por ser longo, mas onde se realça, entre outras coisas, a ternura na poesia de Manuel Bandeira, topei com um verso em que se fala de Bentinho Jararaca...E foi então que me lembrei deste tão lindo poema de M.Bandeira, que brotou do fundo da gaveta da minha memória e que penso ser mesmo assim que se escreve, pois não tenho comigo o livro do poeta para poder eventualmente rectificar:

" Bentinho Jararaca levou a arma à cara./
O que saiu do mato foi o veado branco./
Bentinho ficou pregado no chão,/
Quiz puxar do gatilho/
E não pôde./
Deus me perdoe!/
Mas o cussaruim veio vindo/
Veio vindo/
Parou junto do caçador/
E começou a comer devagarinho/
O cano da espingarda..."