26 agosto, 2006

Quantas madrugadas tem a noite


é o título do romance de Ondjaki que acabo de ler. E não fiquei surpeendida por ter gostado tanto, uma vez que já tinha lido uma novela (O Assobiador) e um livro de contos (E se amanhã o Medo) deste jovem angolano que nasceu com tinta nas veias.
Este primeiro romance de Ondjaki que leio, é realmente um romance angolano. Quer na linguagem, quer na forma.
O nome do personagem principal "AdolfoDido" diz-nos desde logo quase tudo.
E depois uma estória construída com personagens como um anão de nome BurkinaFaçam, que vive dos esquemas tradicionais e rodeado de duas putas de nome Eva e Madalena... um albino que é um honesto professor de nome Jaí, uma senhora de quem se fala sempre como a Kota das Abelhas e que assassinou a abelha raínha e tomou o seu lugar, e acaba por tomar lugar também no coração do albino, mais o puto PCG (Pisa com gêto) que é adotado pelo anão por uns dias, depois de o ter atropelado, e que vive no Castelo por opção, (nome dado às casas onde vivem os meninos de rua em Luanda), apesar de ter família, só podia ser escrito por um caluanda.
Uma estória que é contada por um morto (que seria o primeiro com estatuto de ex-combatente, embora nem sequer tivesse idade para o ser), que voltou à vida e deixa de queixo caído as suas duas viúvas DonaDivina e a KiBebucha, que pretendiam (ambas) ser consideradas a "primeira viúva do estado".
Tudo neste romamnce está tão bem orquestrado, tão bem escrito, tão bem contado, que tudo o que posso dizer é parabéns ao jovem Ondjaki e recomendar a todos que leiam este romance fantástico que pode parecer um pouco difícil por causa da linguagem desconhecida da maior parte dos "tugas" mas que acaba por ser descodificada rápidamente sem "makas".
E aqui fica o provérbio kimbundu que abre o cápítulo "Morte matada, de cão":
Múkua-kâfua ûfua, o kâfua ne kâbune (Tem que morrer o defeituoso, para que o defeito acabe)

2 comentários:

inezia disse...

boa noite cara Eduarda!

Vi o seu posto sobre o livro que mencionou e fiquei realmente interessada visto que passo grande parte do meu tempo em Angola. Será que me podia falar mais um pouco sobre o livro? Ficaria bastante agradecida.

Bj.

Maria Eduarda disse...

Farei o possivel Inezia. Fica a promessa.