28 agosto, 2006

Belo Belo



Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.

Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

(Manuel Bandeira)

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande Manuel Bandeira.Lembro uns versos dele:
" Capiberibe, Capiberibe,
Lá longe o sertãozinho do Caxangá, Banheiros de Palha...
Um dia...
Vi uma moça toda nuinha no banho,
Fiquei parado,
O coração batendo...
Foi o meu primeiro alumbramento..."

Não sei se as palavras estão bem escritas, já foi há tanto tempo...

Mas eu também nunca mais esqueci esse alumbramento sempre sempre renovado.

Um abraço.

Eduado