12 novembro, 2010

não sei onde nem porquê


dizem que dizia adeus. em lisboa. não sei mais nada. não vi notícias apenas uma imagem da avenida da liberdade cheia de gente dizendo adeus. não sei quem era. só que diz adeus. sim talvez devesse mudar o tempo do verbo. talvez. mas não mudo. alguém que ocupa a sua vida dizendo adeus há-de fazê-lo onde quer que esteja. em lisboa a dizer adeus e eu não sei quem era. apenas que tinha oitenta anos. teria... não sei. se era alto baixo magro gordo careca ou não olhos escuros ou azuis. teria barba ou bigode ou apenas a cara escanhoada. não sei. não conheci o homem que dizia adeus. e percebo de repente que não conheço nada do dia a dia de lisboa. os meus caminhos não passaram nunca que me lembre pelo homem que diz adeus. quero dizer de dia. é lugar onde passo de noite é verdade quando vou a um concerto por ali na zona da liberdade. ou por baixo no canudo que a rasgou. durante o dia. estou vazia. não conheci o homem do adeus. não conheço lisboa. aquela que lembro não tem nada a ver com a cidade em que se tornou. a aldeia grande que era cheia de saloios e pacóvios tornou-se cosmopolita. é o que vejo em imagens agora de madrugada e percebo que esta não é a aldeia grande que conheci. esta é ainda uma grande aldeia. que se atravessa em pouco tempo se não houver trânsito. nada como londres ou madrid aqui ao lado. uma cidade que tem tudo para ser uma bela cidade mas não é mais do que uma grande aldeia vibrante de noite e triste de dia quando as pessoas passam todos os dia pelos mesmos lugares e se conhecem de vista mas ao contrário das aldeias ninguém diz bom dia ou se diz há o espanto do outro lado. e é por isso que hoje me espanto. havia um homem em lisboa que dizia adeus e a quem as pessoas respondiam. continua a dizer adeus. não sei onde nem porquê.

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