11 novembro, 2010

balha-me deuje zé


tenho estado calada zé logo eu que sempre gostei de dar à língua vejo-me paralisada os dedos inchados o ego murcho a dificuldade de te dizer zé lixaste-me a vida. mas já que comecei hei-de fazer um esforço para que os dedos atinem com as teclas e me deixem dizer gritar sei lá lixaste-me zé. e eu nem fiz nada para isso. lixaste-me zé. andas a lixar-me há muito. e eu a ver. não contente por me teres lixado zé deprimes-me. consegues que me sinta muito muito lixada e lá vou eu contra todos os meus princípios procurar alguém que me ajude. ir ao médico é como ir à bruxa. a gente chega lá e fala. depois da resposta ficamos a saber se acreditamos ou não. sem isto não vamos a lado nenhum. tenho sorte. arranjo uma bruxa em que acredito. passa a ser uma fada. pergunta porque estou a chorar e eu digo foi o zé. não preciso dizer mais nada. ela também está lixada com o zé. sempre que a visito queixa-se do zé. eu faço coro ou vice versa. é a vida. temos que ser uns para os outros. vou ao boticário mais próximo e compro a mezinha que me há-de manter a boiar. faz efeito. o mundo desmorona à minha volta e eu não ligo pevas. a mezinha é boa. melhor que branquinha porque me mantém num mundo azul sem alucinações. é certo que faz com que passe a sentir uma enorme indiferença pelo zé. não me interessa o que diz. está tudo bem e eu sei que não é verdade mas fico aqui sentada a ver imagens na televisão os fatos elegantes o cabelo grisalho bem cortado o sorriso agreste. fico aqui como se nada do que diz me dissesse respeito. a minha fada manda-me a outra bruxa. uma especialista para outro problema. vou a todas. estou por tudo. e depois manda-me a uma terceira que se encarrega de outras mazelas. estas bruxas não são como as que põem anúncio no jornal e garantem resolver todos os problemas de amor e dinheiro e droga e álcool ossos e alma tudo no mesmo saco. estas não. uma cuida da alma outra do corpo outra dos ossos. nenhuma delas tem poções para resolver problemas de amor e dinheiro. pior para mim. para que serviu esta conversa toda? fui ao boticário e piorei de repente. num segundo. bastou ele pedir-me mais de cinquenta euros pela mezinha para a alma. balhame deuje zé. tem dó das almas cansadas de penar.

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