neste primeiro de maio em que fiquei por casa a dar uma de trabalhadora dou conta do meu filho a abrir a porta de casa. não tinha percebido que alguém tivesse batido à porta. veio ter comigo à cozinha e disse-me que estava uma mulher a pedir que lhe desse alguma coisa para fazer para o jantar. disse-lhe que visse na despensa e no frigorífico. não vi o que pôs num saco mas sei que foram coisas diversas. incluiu pão mas esqueceu-se do leite. depois veio ter comigo impressionado e disse mãe eu conheço aquela mulher acho que é mãe de um rapaz que foi meu colega e trabalhava na limpeza no centro comercial. hoje no primeiro de maio. hoje em portugal. hoje em oeiras. e de repente penso mais uma vez que sou uma mulher muito rica. já nem preciso de pensar em áfrica. já não preciso passar na almirante reis ou no martim moniz de manhã cedo ou ao fim do dia. já não preciso sequer de sair de casa. a miséria deixou a rua e bate-me à porta no papel de uma mulher que não tem dinheiro para ir ao super mercado e pede de porta em porta "alguma coisa para fazer para o jantar". não pede dinheiro. pede alguma coisa para fazer para o jantar. e percebo que afinal foi pena não me ter apercebido de que alguém me tinha batido à porta. talvez aquela mulher precise de bem mais do que algo para fazer para o jantar. não custava nada ter-lhe dado também uma palavra amiga. no primeiro de maio. em portugal. em oeiras. em 2010.
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