23 abril, 2010

graças a d. quixote. de lisboa


ouço o médico dizer-me vá descansada está tudo bem consigo e percebo que afinal talvez eu estivesse mesmo preocupada mas não tivesse tempo para me preocupar com isso. ouvi-lo dizer vá descansada afinal deixou-me feliz. nunca precisei de muito para ser feliz. parece que continuo igual a mim mesma. de regresso a casa descubro-me sentada ao lado de d. quixote. não sei se é de lisboa este d. quixote. talvez seja um turista uma vez que a única coisa que transporta é uma câmara. mas há tanta gente que gosta de fotografia quem sabe este meu d. quixote com ar de quem tem mais de setenta anos mas se veste como se tivesse trinta calça ténis veste calças de sarja castanhas usa o cabelo grisalho tal como o herói de cervantes e a mesma barba também. embora não seja tão magro como o meu herói... afinal hoje o herói de cervantes talvez não fosse anoréctico. na cabeça um belo chapéu. sai uma estação antes de mim mas viajámos juntos por mais de dez minutos. é verdade que não trocámos uma palavra. é verdade que ele nem deu por mim. é verdade que jamais voltarei a vê-lo mas durante dez minutos eu viajei com d. quixote do século vinte e um é certo mas afinal nada é perfeito. talvez por isso no comboio olhando o rio e sabendo que vou entrar numa casa onde apenas estou eu pesa-me como poucas vezes a solidão. mas já passou. graças ao d. quixote. de lisboa.

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