quis escrever-te ontem mas o desânimo não deixou. como eu queria que aqui estivesses para me confortares um pouco. eu sei. as tuas filhas não me deixam só mas eu tenho saudades das anedotas que contavas... até das tuas imensas neuras tenho saudades sabes? mas hoje que é dia 25 de abril lembro-me bem das entradas triunfais que adoravas fazer de cravo vermelho na lapela. como tu gostavas de o mostrar... e sabes? eu sempre achei que tu fazias aquilo para chatear a mãe. e sabes que mais? hoje ela não ligou nenhuma como se fosse um dia que desconhecesse. e a verdade é que desconhece porque voltou aos seus tempos de menina. só quando me olha volta um pouco ao presente e diz a quem a provoca tu precisavas era de ter uma filha como eu. e fui com ela para comprar uns chinelos e quis que ela aproveitasse a paisagem mas está de novo tão alheia a nossa mãe. hoje não estou mais animada que ontem mana. só que o dia nasceu quente e solarengo e eu saí de casa logo de manhã e fui caminhar à beira mar e apesar da quantidade de gente continuava a andar e só pensava nela e só queria adivinhar o futuro e tentar saber como vou conseguir resistir assim tão só. assim. sem ti. sem o pai. o zé como se não estivesse. uma criança que se recusa a admitir verdadeiramente que a mãe está doente. muito doente. a única coisa que me deixa um pouco confortada é perceber que ela continua tão vaidosa como sempre. como tu. e rala-se porque eu ando de qualquer maneira e quer que eu vá ao cabeleireiro e me maquilhe mas eu vou brincando. afinal parecida com ela eras tu. e fazes-me falta. eu sempre fui mais parecida com pai. que me faz tanta falta. faltam-me. vocês.
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