23 março, 2010

sinto-lhe a falta


vi-o pela primeira vez na estação do metro do cais do sodré. já me tinha chamado a atenção com os seus cabelos grisalhos apanhados num rabo de cavalo e umas calças de ganga muito coçadas. chegada à passagem para os comboios ele encontrava-se à minha frente. desviou-se e deu-me passagem. olhei-o nos olhos. verdes. olhos pouco jovens mas ainda muito bonitos. agradeci a gentileza. afinal já não é normal encontrar um homem que tenha alguma delicadeza. confundem igualdade com educação. subi as escadas rolantes em direcção ao comboio a cantarolar a canção de roberto "eu sou aquele amante à moda antiga/daqueles que ainda manda flores/e que apesar da calça desbotada/ ainda faz sorrir a namorada"... e pensei que a mulher daquele homem é provavelmente uma mulher com sorte. lembro o meu pai. toda a vida teve este tipo de delicadeza com a minha mãe. por isso dou tanta importância a estas atitudes. no dia seguinte voltei a vê-lo no mesmo local. as mesmas calças de ganga desbotadas e o mesmo cabelo grisalho preso num enorme rabo de cavalo. tal como eu vinha a uma hora diferente. acasos da vida. não voltei a ver o cavalheiro de calças de ganga desbotadas. mas sinto-lhe a falta.

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