07 março, 2010

olhos de céu


a vida é como a história. repete-se. quando temos filho pequenos temos que os deixar no jardim de infância porque temos que trabalhar. ganhar o pão para a boca. depois quando entramos na idade de geração sandwich ou temos muita sorte e os nossos pais são pessoas saudáveis que se limitam a envelhecer e muitas vezes a morrer de gastos como aconteceu à minha avó paterna aos 99 anos ou quase de repente tendo vivido sempre sozinha até aos 92 anos como aconteceu à minha avó materna. mas quando a vida nos prega partidas de que não estávamos à espera e nos deparamos com a necessidade absoluta de internarmos um dos nossos num lar a angústia instala-se e o mundo parece desmoronar. depois pouco a pouco há que encarar a realidade e tentar arranjar um sítio agradável onde saibamos que os nossos velhos são tratados com cuidados e carinho. e por isso hoje fui ver o lar onde um dia destes terei que internar a minha mãe. e a angústia que levava amainou quando olhei os olhos de céu da céu a pessoa que me indicou este lar como sendo bom. conheci-a de passagem há uns anos uma vez que é coordenadora do jardim infantil onde o meu filho mais velho trabalha. confesso que sou distraída. e por isso quando ela me lembrou que já nos conhecíamos voltei no tempo e lembrei-me realmente de onde conhecia aqueles olhos de céu. os da céu. e quando ela me disse que me conhecia muito bem porque passava por este espaço de vez em quando e isso lhe dava a sensação de me conhecer bem. ainda bem. porque é para isso que escrevo aqui. para que as pessoas me conheçam e poder partilhar ainda que com muita gente que não conheço as minhas alegrias mas também as minhas angústias e histórias ás vezes verdadeiras outras inventadas. estou portanto mais tranquila pois graças à céu com olhos de céu encontrei um lugar decente e limpo no meio do campo onde penso que a minha mãe poderá viver ainda alguns anos mais felizes.

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