quando era menina festejava o dia da mãe neste dia e tinha sempre uma prenda para a minha mãe feita na escoa outra comprada pelo meu pai e outra feita por mim. lembro-me perfeitamente do ano em que escrevi numa folha de papel almaço um poema de António Botto e depois com um isqueiro lhe dei aquele aspecto de pergaminho. tinha aprendido a técnica há pouco tempo e passava a vida a aplicá-la. nesse ano senti-me muito feliz por dar aquele presente à minha mãe. se bem que quase sempre lhe oferecia uma poesia das que eu mais gostava. apesar de também as escrever nunca me atrevi a oferecer-lhe nenhuma. aqui para nós nunca as mostrei senão uma ou outra que eu considerava apresentáveis a pessoas muito próximas. publiquei por insistência de um amigo algumas vezes num pequeno jornal se bem que o mais antigo de portugal mas realmente a poesia necessita de algo que me falta. paixão e dor ou paixão e alegria. não sei escrever de outra maneira algo que preste. e por isso hoje que foi o dia da padroeira de portugal lembrei o tempo que foi meu de criança mais ou menos desaptada muito tímida e sempre encenado para que não se percebesse o quanto me sentia mal no meio de outras pessoas e o quanto gostava de estar só no meu canto a ler um dos romances de Jorge Amado que os meus pais me proibiam porque achavam que eu não tinha idade para os ler mas qual quê tudo o que aparecia de novo lá por casa e aparecia constantemente pois o meu pai acho que não passou um dia da sua vida de adulto sem ler. foi apenas um dia feriado. para descansar um pouco mais desta azáfama que se tornou a época natalícia. que loucura é esta que toma conta de nós? e este ano a crise veio trazer um pouco de contenção à confusão do costume. não há tragédia sem comédia.
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