12 dezembro, 2009

Alfama


Quando Lisboa anoitece
Como um veleiro sem velas
Alfama toda parece
Uma casa sem janelas
Aonde o povo arrefece.

É numa água furtada
No espaço roubado à mágoa
Que Alfama fica fechada
Em quatro paredes de água
Quatro paredes de pranto
Quatro muros de ansiedade
Que à noite fazem o canto
Que se acende na cidade
Fechada em seu desencanto
Alfama cheira a saudade.

Alfama não cheira a fado
Cheira a povo, a solidão
A silêncio magoado
Sabe a tristeza com pão
Alfama não cheira a fado
Mas não tem outra canção.

(José Carlos Ary dos Santos)

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