habituei-me a ver o rapaz da cabeleira black power. habituei-me a ver o seu sorriso de quem diz bom dia sem dizer. habituei-me a sentir que o seu sorriso logo de manhã me dá sorte. manias de quem não tem mais nada que fazer ou que tem tanto que fazer que foge para o sorriso de um rapaz que se senta habitualmente na mesma carruagem e no mesmo assento do comboio. hoje não o vi. hoje não teria aulas ou o que quer que seja que faz. digo aulas porque é muito novo. mas na verdade o que me encanta neste miúdo é a maneira como sorri. já disse. hoje não o vi. e o comboio seguiu mais triste embora sem grande atraso. mas de que adiantou? o rapaz do sorriso não estava lá. por isso mal cheguei ao meu local de trabalho tratei de dar o meu melhor. e dei. nada de conversas nem de tró ló ló e nem de coisa nenhuma. queria pôr em dia o trabalho da semana em que estive de férias e o desta. e pus. também já não faltava tudo. claro. afinal já passaram quatro dias mais ou menos úteis esta semana. o de hoje menos útil uma vez que o rapaz do sorriso não estava no seu lugar como eu esperava. na volta também não o encontrei. confesso que tinha uma pontinha de expectativa quanto isso. não se concretizou. o dia ficou ainda menos útil. apesar do trabalho em dia. apesar da consciência tranquila. apesar do dia de sol. sem o rapaz do sorriso o dia ficou menos brilhante.
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