13 outubro, 2009

para estar contente

de manhã senta-se à minha frente a mulher pequena e magra. daí a pouco chega o homem bronzeado. ontem não os vi. não os vejo há já algum tempo. alguma coisa mudou. a estratégia da mulher parece ter resultado. ele chega senta-se ao lado dela e beija-a. quando ela sai em algés despedem-se com um beijo. por quanto tempo durará esta trégua e o que levou à guerrilha entes dela? pode ser que eu me tivesse enganado. pode ser que mulheres que não se importam de ser mal tratadas de vez em quando e persistem em agradar aos namorados tenham um lado positivo. afinal toda a vida foi assim. eu é que tenho a mania que estou à frente. qualquer dia passa-me. no túnel de saída da estação de alcântara mar vejo pela primeira vez um homem da cml a limpar. fico encantada. mesmo que só varrido já o túnel parece outro. passo o dia sem me dar conta das horas. só quando o cansaço me abana é que percebo que são horas de voltar para casa. no comboio para alcântara vai um rapaz de rabo de cavalo e chapéu à Bogart. calças de ganga coçadas e camisa castanha. vai desafinado alto e bom som todos os temas que vai ouvindo. primeiro o samba da bênção depois índia depois passa para o fado de coimbra e trauteia samaritana e quando o comboio está a chegar já vai no fado do passarinho. canta mal. tudo. mas canta e isso encanta-me. à saída perco-lhe o rasto. queria saber se continuaria a cantar rua fora. creio que sim. o túnel ao fim da tarde já apresenta beatas pelo chão e outro lixo. que pena. amanhã será um outro dia. espero que tão bom quanto este. não é preciso mais do que isto para estar contente.

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