29 julho, 2009

primeiro apontamento de uma longa jornada


Núria tem 83 anos é baixa e magra. usa o cabelo completamente branco muito curto e tem uma dentadura postiça igualmente reluzente de brancura. faz-se acompanhar do seu "perro". sai de casa pelas 4 da manhã e vai para a praia passear o "perro" que é igualmente branco de neve com um pelo comprido e liso. sem mais nem menos convidou a P e a mim para conhecermos a sua casa. à medida que vai mostrando vai dizendo todas as obras que fez para ficar com a casa como queria. da sala fez um salão e do seu quarto uma suite. tem ainda um quarto aonde recebe os filhos quando a vão visitar e um quarto de trabalho onde se senta a escrever as suas memórias. vejo um resma de papel escrito com uma letra miúda e um computador. suponho portanto que passa as suas memórias a limpo para o computador. a filha que vive em Granada veio visitá-la e diz que está muito feliz mas Núria não se cala. a filha diz que ela já está farta da sua visita. que se habituou a viver sozinha e por isso inventa às vezes umas maleitas para que os filhos a visitem mas tem mais saúde que toda a vizinhança junta. os seus olhos não têm mais de 20 anos. diz que faz parte de brigada que limpa a praia. que sabe que muita gente diz quando a vê de madrugada pela praia lá vai a velha louca e solta uma gargalhada do tamanho do mundo. exulta alegria. uma alegria que contagia. que deixa quem a rodeia feliz. foi uma das pessoas que conheci nesta jornada de mais de dois mil e quinhentos quilómetros. e também um dos motivos porque posso dizer. valeu a pena.

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