03 junho, 2009

Escola

O que significa o rio, 
a pedra, os lábios da terra 
que murmuram, de manhã, 
o acordar da respiração? 

O que significa a medida 
das margens, a cor que 
desaparece das folhas no 
lodo de um charco? 

O dourado dos ramos na 
estação seca, as gotas 
de água na ponta dos 
cabelos, os muros de hera? 

A linha envolve os objectos 
com a nitidez abstracta 
dos dedos; traça o sentido 
que a memória não guardou; 

e um fio de versos e verbos 
canta, no fundo do pátio, 
no coro de arbustos que 
o vento confunde com crianças. 

A chave das coisas está 
no equívoco da idade, 
na sombria abóbada dos meses, 
no rosto cego das nuvens. 

(Nuno Júdice)

Sem comentários: