a festa acabou pá

com os olhos cheios de mar recordo o único 1º de Maio que festejei. foi em 1975 no terreiro do paço em lisboa e o meu rosto correu mundo. pelas televisões pelos documentários nos cinemas... e eu nunca me vi. os meus amigos os meus colegas faziam a festa vi-te vi-te e eu não estava nem ali. o sangue fervia eu queria mudar o mundo eu era capaz tudo era possível. o comício do terreiro do paço era de todos. ali estava gente de todos os partidos. aquele era o dia não só dos trabalhadores mas dos estudantes. é claro que todos esquecemos naquele dia a guerrilha política do dia a dia. havia festa e cantores de intervenção e todos podíamos falar porque a festa era de todos. foi uma das coisas mais bonitas que vivi na vida. só o fiz uma vez e não o farei mais. porque o que eu senti naquele dia não pode ficar maculado com outros dias. a festa acabou pá. essa é a verdade. hoje dois desfies de duas centrais sindicais diferentes. Vital Moreira sabendo o que faz vai ao comício da CGTP e é insultado por manifestantes. quer um pedido de desculpas. de quem? dos manifestantes da CGTP ou do seu partido de tantos anos que ele melhor do que ninguém tinha obrigação de conhecer? se eu me chamasse Vital Moreira pediria desculpa por ter aparecido por ali. era o que eu faria e pronto. bem. a verdade é que eu nunca poderia ser Vital Moreira pois não teria feito nada do que ele fez. uma anarquista não tem partido nem clube. a família é escolhida. o casamento é um absurdo. os laços de sangue também se escolhem. é verdade que é dia 1 de Maio. mas a festa acabou pá.