02 maio, 2009

E de novo, Lisboa


E de novo, Lisboa, te remancho, 
numa deriva de quem tudo olha 
de viés: esvaído, o boi no gancho, 
ou o outro vermelho que te molha. 

Sangue na serradura ou na calçada, 
que mais faz se é de homem ou de boi? 
O sangue é sempre uma papoila errada, 
cerceado do coração que foi. 

Groselha, na esplanada, bebe a velha, 
e um cartaz, da parede, nos convida 
a dar o sangue. Franzo a sobrancelha: 
dizem que o sangue é vida; mas que vida? 

Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui, 
na terra onde nasceste e eu nasci? 

(Alexandre O'Neill)

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