19 maio, 2009

com a cumplicidade da Rosália


espero ser atendida na recepção da clínica. tirei uma senha e não falta muito para chegar a minha vez. uma senhora bastante velha aproxima-se de mim e com sotaque espanhol pergunta-me se tenho telemóvel. digo que sim. pede-me então para fazer uma chamada. diz que vê mal e ali não a deixam fazer uma chamada. acrescenta que me paga. respondo que pode usar o meu telemóvel desde que não insista em pagar o que quer que seja. diz que gostava de pagar mas estende-me um papel com um número de telefone fixo. ligo e quando começa a chamar passo-lhe o aparelho. percebo que está a falar para o lar onde vive. a empregada com quem quer falar não é aquela a quem ela quer falar. pede que chamem a Rosália. daí a nada ouço-a dizer estou no dentista e estou bem não te preocupes. depois vem buscar-me mas não digas nada para não levares um raspanete. termina a chamada e enquanto me devolve o telemóvel explica que não vê quase nada e que pediu ajuda na rua às pessoas para atravessar. tudo isto no seu sotaque espanhol que me transportou ao tempo em que a minha amiga Ângela ainda vivia e a quem eu chamava trapalhona porque não falava bem nenhuma das duas línguas (português e espanhol). e fiquei a pensar na esperteza daquela velha senhora. pelos vistos não lhe permitem ir aos médicos que escolhe. pois bem. ela faz o mesmo que eu fazia quando era miúda e me proibiam ir a certos sítios. pirava-me. foi o que ela fez com a cumplicidade da tal Rosália com quem pelos vistos tem uma forte relação de amizade. abençoada Rosália.

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