30 abril, 2009

fica aí


deixa-te estar assim. gosto que me olhes assim. não fales. não digas nada. não me perguntes nada. eu sei que tu queres saber mas ambos sabemos já tudo o que importa. sempre soubemos. antes de nos conhecermos já éramos íntimos. depois de nos separarmos continuámos assim. ninguém que passe pela vida de cada um de nós pode destruir isso. estava escrito. está escrito. nada é para sempre. excepto o que está escrito. não muda. nada pode mudar esse facto. não nos conhecíamos mas sabíamos que existíamos. sabíamos que éramos um do outro. não importa por quanto tempo. não importa desde quando. isso só foi importante antes de nos separarmos. agora já não é. porque agora aprendemos que não podemos viver um com o outro mas seremos eternamente um do outro. como era antes de nos conhecermos. os filhos de cada um de nós só eram filhos de outros corpos mas sempre foram os nossos filhos. nem a morte foi capaz de alterar esta evidencia. e se quero que fiques aí sentado a olhar-me enquanto escrevo é porque quero dizer-te o que sabes. o que sempre soubeste. faltas-me. sempre me faltaste. mesmo quando estávamos juntos. sempre me faltaste. por isso agora que estás aí quieto como te peço estás mais perto de mim do que nunca. agora sim. agora já não saio sem te dizer para onde. agora já não tenho que te deixar. agora já posso ser tua para sempre como querias. porque estava escrito e eu não posso mudar a escrita do tempo. e não quero. fica aí. como estás. quieto. a olhar para mim.

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