quando me ligou avisou que era a rapariga mais feia da turma. com certeza que eu conhecia. respondi que não. não me lembrava nem de 1/3 das caras da turma. tínhamos apenas três disciplinas em comum e para além disso eu tinha sido "pescada" pelo grupo indisciplinado do fim da turma. mal conhecia os rapazes quanto mais saber quem era a rapariga mais feia da turma... olhando hoje para a turma reconheço que continuo sem me lembrar de grande parte das caras. adiante. que precisava muito de falar comigo. não sabia porquê mas confiava em mim. estaria eu disposta a encontrar-me com ela na "zarolha" no dia seguinte? disse que sim. combinámos uma hora e lá estava eu tomando a minha italiana à espera de uma rapariga que se achava feia. quando ela chegou achei que tinha razão. quer dizer. não sabia se era a mais feia da turma. mas era bastante feia. cara deslavada cabelo espetado tipo ouriço mamas enormes num corpo de metro e meio assim a dar para o quadrado. sentou-se e começou a contar-me o que a afligia. desde menina que sonhava ser parecida com a Marilyn mas à medida que o tempo passava olhava-se ao espelho e cada dia se achava mais feia. lá a fui animando conforme pude. disse-lhe que afinal não havia nada que não tivesse remédio. se era certo que jamais seria a diva poderia arranjar os dentes outro corte cabelo roupa mais larga para disfarçar a enormidade do busto... ficámos amigas. ia muito a casa dela que ficava numa travessa mesmo junto à casa do PR em Belém. de repente a minha vida deu uma volta e nunca mais soube dela. se ao menos me lembrasse do nome. mas só do primeiro e esse é demasiado vulgar. tenho até várias amigas com o mesmo nome. hoje lembrei-me dela porque ao longo da vida têm surgido na minha vida algumas pessoas que não me conhecendo de lado algum me abordam e falam das suas angústias. hoje foi um colega de trabalho que eu conhecia apenas de vista. abordou-me na passagem subterrânea de Entrecampos e estive a ouvi-lo algum tempo. vai-se embora este mês para outro lado. não se sentia bem ali. senti-me outra vez como um ouvido. tomara que tenha mais sorte para onde vai. e que não tenha que sofrer na pele a frustração de certa gente que devia era estar em casa em vez de exercer pequenas ditaduras nos seus locais de trabalho. boa sorte colega. pode ser que ainda voltemos a falar. para a semana... logo se verá. é que a bem dizer nunca te vi falar com ninguém...
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