06 janeiro, 2009

Uma voz na pedra


Não sei se respondo ou se
pergunto.
Sou uma voz que nasceu na
penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou
crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel
ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma
torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede
e a da chama.
Com esta pequena centelha
quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo
em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das
árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda
não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre
o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez
e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem
a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser
aberto por uma palavra.

(António Ramos Rosa)

Sem comentários: