15 janeiro, 2009

a mim apetece-me mais uma morna


mais uma vez um comentário do Flip faz mudar o rumo dos meus dedos e vai de ir atrás dele (Flip) e deles (dedos). é que farta de passar dias inteiros a obedecer à inteligência e à razão sabe bem chegar aqui e divagar. aqui onde ninguém nem mesmo eu me diz o que tenho ou não tenho de escrever. como devo escrever. este é o único espaço na minha vida onde não sou obrigada a usar vírgulas e maiúsculas senão as que entendo dever usar. é assim como ter um negócio por conta própria onde não tenho que me preocupar com os lucros ou perdas. aqui tudo é ganho. as perdas se as há vão de imediato cano de esgoto abaixo. pois o Flip diz que já voltou a Angola 3 vezes. que bom para ti Flip. eu não voltei e muito francamente apesar de todas as recordações de uma infância e adolescência em liberdade sem o maldito frio a tolher-me os movimentos não tenciono voltar. sabes Flip... tenho medo de me desencantar. tenho medo de perceber que tudo o que vivi ou penso ter vivido lá seja um sonho algo que nunca existiu mais um produto da minha imaginação. porque leio por exemplo os romances de Pepetela, Luandino e Ondjaki só para citar os que mais leio relacionados com Angola e a realidade que me mostram não tem nada a ver com a que eu vivi. exceptuando Ondjaki que sendo o mais jovem surpreendentemente fala de uma vida que me é familiar. eu tenho a mania que sou durona e resistente a todas as mágoas mas a capa vai ficando cada vez mais fina. agora sou capaz de chorar por coisas que achava ridículas. e para sobreviver aprendi a só guardar o que me fez feliz. é por isso que não me apetece voltar embora me saiba muito bem "ouvir-te" falar nessa espécie de dialecto inventado entre o kimbundu e o português. quem sabe um dia mudo de ideias... para já o que me apetece mesmo é uma palhota perto da cidade do Mindelo a dois passos do mar e pescar um peixinho para o almoço... esse é o maior sonho da minha vida. não sei se o vou realizar mas gostava de poder viver a minha reforma (se é que algum dia virei a ter uma...) assim. num lugar sossegadinho e quente à beira mar tendo ao lado uma cidade culturalmente viva e imaginativa com muita morna à mistura.

1 comentário:

Flip disse...

Maria Eduarda, é uma boa aposta, oxalá a consigas concretizar. Quanto a Angola, sim, mudou muita coisa, seria fastidioso enumerar aqui tudo o que se alterou, mas o que me continua a encantar, é e será sempre poder reviver aquele ar quente, correr para a praia e mergulhar pois sei a temperatura daquela água, azulinha e morna, e sei mais ainda, que aquela gente continua a ser boa e simples, que sofre mas que faz do sofrimento quase alegria, a poeira encarnada está mais suja, mas já a conheço há bué, trato-a por tu, a lua continua quente, parece mentira? Tu sabes que não, continua redonda e cheia da luz que rouba lá no céu, e a funge? Ora, tem igual aonde? E as confusões que acabam com alta almoçarada? tss tss...faz saudade :-)E a cabeça daquela gente é descomplicada, a gente desconsegue de esquecer :-)
E isto tudo foi só pra alimentar um coche o teu sorriso, vá lá, ri então
:-)