14 agosto, 2008

o eclipse


acho que não aconteceu foi acontecendo assim sem que déssemos por isso foste morrendo assim devagar muito devagar pé ante pé como que não quer que se saiba como quem não quer que lhe sigam as pegadas e hoje quando olhei à tua procura já não estavas lá estavas morto e eu estranhei teres morrido sem me dizeres nada sem me avisares e estranhei ainda mais não sentir a dor que sentimos pelos mortos.
não sei como isto aconteceu não consigo explicar mas foi assim uma daquelas coisas que acontecem na minha vida como quando às vezes pessoas que eu pensava que me eram próximas se tornam estranhos como se nunca as tivesse conhecido ou sequer visto como alguém que se cruza comigo na rua e a quem não presto atenção porque vou a pensar noutras coisas na minha vida nos meus filhos nos meus netos no planeta sei lá...
e é ainda mais estranho não ter realmente notado que estavas a morrer que estavas a fazer o possível por morrer que talvez tivesses tentado dar-me alguns sinais mas eu não prestei atenção provavelmente mais interessada no eclipse da lua do que na tua vida desaparecendo e sentindo-me bem comigo mesma mesmo depois de ter percebido que morreste e que provavelmente a tua doença fui eu que causou o teu desvanecimento

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