29 julho, 2008

Percebes as gaivotas?


Na Galiza fizeram-me muita companhia. As pessoas julgam que eu viajo só mas não é verdade. Há sempre uma ou várias companhias. Na Galiza foram elas. As gaivotas. Apareciam nas rias, por cimas dos camiões cheios de pescado, em cima das traineiras. Quase sempre silenciosas porque o alimento chegava para todas, ao virar de uma curva lá estavam as minhas amigas.
Mas agora já não. As gaivotas não podem já fazer-me companhia. É mais fácil uma estrela do mar fazer-me companhia. Agora as gaivotas são como aves que agoiram solidão. De cada vez que ouço uma arrepio-me. Gosto de me sentir acompanhada onde quer que esteja. Mas as gaivotas fazem com que eu sinta o peso da solidão de quem está acompanhado.
A questão é que as gaivotas de repente deixaram de me pertencer. Agora fazem parte de um outro universo, onde a solidão existe de verdade. Por muito que gritem estamos aqui, o seu mundo já não é o meu. É um mundo de silêncios povoado de gente que acha que vive a vida com intensidade. Por isso é que as gaivotas gritam. Têm medo do silêncio. Não sabem que o silêncio também é uma companhia. Uma das melhores companhias por acaso.
Por isso é que eu hoje virei as costas às gaivotas. Percebes?

1 comentário:

Unknown disse...

Até os bichanos com mau feitio gostam das estrelas do mar.
É bom sinal.
Qualquer dia no `A Beira de Água" hei-de falar nas estrelas do mar.
Beijo.

Eduardo