15 julho, 2008

Onde estás?



Se eu soubesse onde estás, iria ter contigo... é que tens-me feito tanta falta. A mãe passa a vida a falar em ti, de ti, esqueceu todos os momentos maus e só ficaram os bons. Absolveu-te completamente de todas aquelas pequenas falhas que todos cometemos e que ela insistia em lembrar a vida inteira, como se devêssemos ser castigados o resto da vida por uma má decisão. Tu sabes como ela é. Mas agora esqueceu tudo e só ficou uma vida de felicidade sem par. Quando quer exercer o seu direito a envenenar a vida de alguém escolhe outros alvos. Sempre os mesmo sabes como é.
Por isso se eu soubesse onde estás iria ter contigo. Para podermos conversar, para que me digas (talvez agora já saibas), o que hei-de fazer a todo o frenesim em que ela entra por vezes. E a maior parte do tempo está virada para dentro, a conversar consigo mesma, como se o mundo à roda dela não existisse. Em frente à televisão tanto faz estar como não ligada. Fala consigo mesma ou com o relógio da sala. Ninguém a convence a ir a um especialista. Continua a auto medicar-se, a sair de casa quando lhe dá na bolha... agora está mais sossegada. Acho que tem dores, passa o tempo quase todo deitada... mas se tu estivesses cá eu sei que havias de a convencer a tratar-se.
E era isso que eu queria que tu me dissesses. Quais os argumentos que devo usar. Se não me queres dizer onde estás, vem como no outro dia, entra no meu sonho, torna-te real de modo a que eu sinta o teu calor e o teu abraço, de modo a que eu saiba que estás mesmo ali e diz-me o que devo fazer para poder lidar com esta situação.
Fazes-me sempre tanta falta, pai. Onde estás?

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