Sento-me no Metro a ler "O quase fim do mundo" de Pepetela que me foi oferecido pelo meu filho mais velho no dia da mãe. Desde que comecei aproveito todos os bocadinhos, a estória está bem escrita como era de esperar e é muito imaginativa, bem ao meu gosto. Agora num aparte, devo dizer que alguns escritores africanos estão a deixar a escrita que usavam para passarem a ser mais europeístas na mesma. Compreendo que o façam, porque muitos autores africanos só conseguem ser lidos por quem é africano ou por quem viveu em África ou ainda por aqueles que têm uma proximidade muito grande com africanos. Porque a linguagem é bem diferente, o "calão" se assim se pode chamar a palavras imaginativamente inventadas não é entendido pela maioria dos europeus. E faço ideia do esforço que terá que fazer um tradutor para que o livro seja lido por um francês ou por um inglês.
E lá vou eu por caminhos que aqui não me trouxeram. Uma paragem a seguir sentou-se à minha frente um senhor com ar de "english lord". Perfeito nos seus quase com certeza 80 anos. Entretanto o meu telemóvel tocou eu marquei a página do livro atendi e quando recomeçava a ler o senhor dirigiu-se-me e perguntou quem era aquele autor, tinha estado a olhar curioso para a capa do livro, o nome dizia-lhe alguma coisa mas ele não conseguia identificar.
Expliquei que era um autor angolano e que aquele era o seu último romance editado. Perguntou-me ainda se era homem ou mulher (o nome afinal pode ser lido como sendo feminino, sobretudo na nossa língua) e expliquei que era um homem. Perguntou-me ainda o nome daquele outro que também era muito conhecido e era moçambicano. Respondi Mia Couto? e ele disse esse mesmo. Foi um prazer conversar consigo. Já leio muito pouco mas gosto muito de conversar com quem lê.
Num país onde as pessoas mal se falam, mal se olham esta cena deixou-me feliz. E fiquei triste porque o senhor teve que sair numa paragem bem antes da minha... afinal podíamos ter conversado um pouco mais... quem sabe volto a encontrá-lo e então terei oportunidade para conversar um pouco mais sobre livros e autores africanos que me parece o interessam tanto.
Obrigada por se me ter dirigido, "my lord".
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