14 junho, 2008

A minha prima Julieta


Conheci a Julieta há cerca de 3 meses em circunstancias tristes e naquele dia ela foi a única coisa bonita que aconteceu na minha vida, com os seus bonitos 56 anos, cara lavada e roupa sem qualquer sofisticação, longe do que muitas vezes encontramos nas terras de província onde o exagero e mau gosto imperam muitas vezes e só quem é realmente genuíno da terra, quem nasceu e cresceu e jamais a deixou, consegue manter.
Eu tinha ido despedir-me de uma prima nossa (nessa altura eu nem sabia que tinha uma prima chamada Julieta) que estava de partida após vários anos de muito sofrimento. Nem pensei na altura que era a última vez que a via. Mas a verdade é que muita gente disse que ela tinha esperado por mim para se despedir porque achava que eu era a única pessoa capaz de a entender. A verdade é que eu não a entendia como todos os outros que a rodeavam. Simplesmente aceitava-a e não chamava de louca por ela acreditar numa série de coisas que a maioria dos mortais não acha muito saudável.
Foi nesse dia, quando estava a conversar com a minha prima Conceição que não via há uns 40 anos e que não reconheceria em parte nenhuma a não ser pela discrição que me faziam dela, como sendo uma mulher excêntrica de mau gosto e pedante. Mas eu gostei dela. Como quem gosta de alguém que vive não a vida mas num palco. Alguém que está sempre a representar mas de improviso... não posso negar que ela me impressionou, um pouco pela negativa é certo mas o que conta é o que nos fica na memória e não esquecerei jamais aquela mulher fardada de palhaça e pintada como tal que me falava de uma vida simples que não tinha nada a ver com o que ela representava.
Foi aí que a Julieta entrou. E o seu ar de mulher simples e confiante, de quem está acostumada a ser solidária com toda a gente sem olhar a raivas e ódios que imperam nas grandes famílias de província deixou-me mais do que encantada... fiquei pasmada, extasiada por tanta simplicidade e beleza despida de adereços.
Estabeleceu-se entre nós imediatamente uma empatia muito grande. Dei-lhe os meus contactos e ela liga-me de vez em quando. Hoje ligou, sabendo por familiares que eu havia estado muito doente, preocupada comigo, oferecendo logo a sua ajuda e descansando quando lhe disse que o pior já passou e que me sinto quase como nova...
Mas fez-me tão bem falar contigo de novo Julieta. Pena que realmente eu não aprecie essa terra que me devia ser familiar e a que só volto pela tia Emília e agora por ti... De vez em quando aparecerei para te ver querida Julieta.

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