Não sou do tipo de pessoa capaz de reconhecer outra depois de vários anos sem a ver... já tenho passado maus bocados à conta disso. Uma pessoa fica assim, a modos que sem saber onde se meter. Mas hoje foi a minha vez de reconhecer alguém que não me reconhecia. Estava a pagar a conta numa frutaria onde costumo fazer compras quando olhei para a fila que atrás de mim se formava (aquilo ao sábado de manhã depois das 9.30 começa a ficar impossível), quando a vi. F com quem trabalhei vários anos, lado a lado e que de repente ficou viúva e rica sem suspeitar que o marido tinha uma pequena fortuna amealhada. O suficiente para ela se aposentar (bons tempos esses F, se fosse hoje estavas lixada) e comprar um negócio que é das melhores coisas para ganhar dinheiro hoje em Portugal. Um lar para idosos. O lar é uma vivenda com piscina, onde cada velho em quartos de 2 pessoas paga uma pequena fortuna. Uma das desculpas para se pagar tanto dinheiro é o privilégio da piscina, que de resto eles não usam porque manter uma piscina limpa custa dinheiro e F, de quem gosto muito aliás, não é pessoa para deitar dinheiro fora. De modos que o lar é usado essencialmente por pessoas que vivem com a família e que, tendo dinheiro para tanto, quando vão de férias depositam os velhos ali, de consciência limpa, que o lar até tem piscina. Se calhar alguns até terão a secreta esperança de que o familiar se afogue na dita cuja (é claro que esta piada é de mau gosto e só é dita porque eu sou mázinha e penso que toda a gente é como eu). Eu bem sei que o mundo é composto de gente muito, muito boa, capaz de todos os sacrifícios por todos os seus semelhantes... mas há as excepções como eu que só servem para confirmar a regra. Gente que só está disposta a dar tudo por aqueles a quem ama e a quem admira.
Só para terminar: F só me reconheceu pelo sorriso. Senti que devo estar muito velha, embora ela me tenha dito que a diferença estava no cabelo... mas como ela já me conheceu de cabelo comprido, quase careca e hoje o tenho a meio termo, não me parece que seja por aí. Devo estar gorda e velha. A idade não perdoa. É o que é.
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