25 abril, 2008

25 de Abril. Sempre?


Há 34 anos fazia-se em Portugal uma revolução diferente. Tão diferente que ficou conhecida pela revolução dos cravos. São daquelas coisas que acontecem. Uma vendedeira de flores decidiu oferecer um cravo a um soldado e a coisa pegou. E quem vê fotos hoje, pode até pensar que das espingarda eram disparados cravos.
Pois foi. Foi muito bonito de ver e de viver nos primeiros anos. Foi bonito ver as campanhas de alfabetização, foi bonito ver as pessoas empolgadas com o seu país, participando de manifestações por tudo e por nada. Foi bonito sim senhor... e hoje? O que se passa neste nosso mundo? O que vejo no telejornal? Notícias sobre a fome no mundo e com certeza também em Portugal. Notícia de que se prevê a morte pela fome de milhares de pessoas nos países mais pobres. Alimentos como o leite, o pão e o arroz, deixaram de ser passíveis de compra por parte das populações mais desfavorecidas que aumentam todos os dias.
Ainda há muita gente a descer a Av. da Liberdade no dia 25 de Abril. Ainda há muita gente que acha que a revolução valeu a pena. Eu também acho. Afinal temos uma liberdade que não tínhamos antes. Hoje, a imprensa pode dizer o que está mal... nem sempre, mas pronto. A opinião pública é alertada e isso faz com que pessoas como o José não teimem em processar gente que pensa pela sua cabeça e escreve aquilo que pensa, em qualquer lado, mesmo aqui na blogoesfera.
Mas os cravos esgotaram-se. A alegria esgotou-se. Ficou-me um sabor amargo na boca. O sabor de saber que as manifestações são para quem gosta de gritar. São para quem gosta de companhia. Eu gosto mesmo de ver na TV as manifestações, juro que gosto... mas não me imagino a fazer o que fazia aos 17 anos. Manifestar-me, fugir do COPCON, entrar disfarçada em células mais do que clandestinas num país que se dizia livre. Que, tal como hoje, era livre. Para alguns.

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