07 fevereiro, 2008

Coisas de que me lembrei hoje, mana.


A minha irmã tinha mais sete anos que eu e mais quatro que o meu irmão. As primeiras recordações que tenho dela são terríveis. Na verdade ela gostava muito de me pentear e eu passava a vida com dores no couro cabeludo porque ela me repuxava o cabelo com muita força para experimentar os seus penteados. Este martírio só acabou quando o meu pai finalmente decidiu que o melhor era que eu cortasse o cabelo à rapazinho. Aí sim. Já não havia cabelo para repuxar e eu podia brincar em paz em vez de estar nas mãos da "bruxa" como lhe chamava nessas alturas. Mas é claro que tudo aquilo era na hora da raiva. Porque o que nós lhe chamávamos mesmo era mana. E aos 7 anos eu achava fantástico que ela dormisse com rolos no cabelo e fita adesiva para repuxar o nariz... coisas que as raparigas julgavam ajudar à sua beleza naquela altura... felizmente nunca me submeti a torturas desse tipo. Por isso hei-de ficar bem velhinha depressa, mas feliz por me sentir livre da ditadura que é imposta às mulheres pela moda...
Também me lembro da mana a fazer os meus trabalhos de casa no fim do mês de Março, porque eu não os tinha feito, os trabalhos de casa de um mês inteiro de férias (em Março as escolas fechavam para férias em Luanda, por causa do calor imenso que fazia nesse mês). E a minha irmã quando percebeu que eu não tinha feito os trabalhos de casa não só me ajudou como às tantas me mandou para a cama e acabou o que eu devia ter feito durante um mês, porque já estava morta de sono... E não fez queixa à minha mãe.
Fora isto eu e ela tínhamos pouca intimidade. Ela gostava de fazer o papel de mãe dos manos e sempre que possível e denunciava-nos aos pais quando fazíamos traquinices o que não era raro, antes pelo contrário era quase uma constante...
Só me tornei íntima da minha irmã quando ela casou. Eu tinha passado 4 anos a fazer de pau de cabeleira e quando ela finalmente casou a minha tortura terminou e eu passei a ter muito mais tempo livre para mim... nessa altura já gostava de passar os dias a ler. Também gostava de ir às matinés do cinema Aviz ou Miramar...
Hoje lembrei-me muito da minha mana... um dia destes talvez volte a falar dela por aqui. Para que os netos que não a conheceram fiquem a saber um pouco mais da avó que os teria amado com loucura.

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