14 novembro, 2007

Justiça à portuguesa

O caso passou-se há 6 anos. O homem trabalhava na Alemanha e veio de férias a Portugal. Na aldeia do distrito de Barcelos de onde era originário, mata as saudades dos amigos e familiares bebendo copos atrás de copos na tasca. E vai matando saudades dos amigos, da memória e do juízo...
Um dia, sai da taberna e a caminho da casa encontra um amigo lavrando a terra com um tractor. Põe-se à conversa, entretanto o amigo desce do tractor para ir dar uma mijadela e é então que o bom do António, já muito entornado resolve subir para o tractor e dar uma de motorista.
Só que o homem estava mesmo muito bem bebido e consegue virar o tractor de modo a que o mesmo caia em cima dele... com tanto álcool no sangue, duvido que ele se tenha sequer apercebido das dores, menos ainda da morte.
A viúva e três filhos, a residirem na Alemanha decidem pedir uma indemnização à seguradora... qual, não sei... provavelmente algum seguro de vida que o homem tivesse. E daí pode ter sido à seguradora do tractor ou do dono do tractor, eu sei lá, ele há gente para tudo e eu todos os dias assisto a estórias assim um pouco rocambolescas. Adiante.
Aqui há uns meses tive que ir a tribunal por vídeo conferência por causa deste caso cuja única participação que tive foi a de analisar e atribuir as prestações por morte da segurança social portuguesa à viúva e filhos. Chegadas lá (vamos sempre duas colegas, para dizer o mesmo diga-se de passagem) mandaram-nos embora porque o julgamento tinha sido adiado para hoje... já nem me lembrava que tinha esta estopada hoje quando a minha colega me avisou ontem que tínhamos que estar no palácio da justiça de Lisboa às 9.30H.
Às 11.30 fomos chamadas. Primeiro eu: começo por dizer o meu nome conforme pedido do meritíssimo. Ele então diz-me que ainda não é a minha vez que quem está arrolado (palavrinha feia esta né?) é a minha colega. Lá fui chamá-la e ela sai de lá toda nervosa.
Entrei na boa. Fui dizendo que jurava dizer a verdade mas que da mesma não sabia nada. Respondi às perguntas que sabia e às outras lá fui dizendo que não podia responder, só se me pusesse a inventar. No fim o advogado mau da fita, disse que tinha gostado muito de conversar comigo, eu agradeci e pronto, passava do meio dia, tempo perdido para duas funcionárias que têm muito mais que fazer e para um tribunal a quem as perguntas que nos fez não esclareceram coisa nenhuma, uma vez que já tinham as mesmas respostas por escrito.


E pronto. (Se calhar isto aqui merecia um "prontos" mas fica para a próxima). É assim. As leis são para cumprir e cumpro-as... mas que isto me parece pouco menos que uma anedota, parece.

Sem comentários: