02 novembro, 2007

carta aberta a um pequeno deus

pensas que tens o dever e o poder de punir. pensas que podes ajuizar os outros mas és incapaz de olhar para dentro de ti. mesmo quando reconheces os teus erros, apresenta-los como muito menores que os dos outros, portanto não passíveis de julgamento ou de punição.
convém que saibas que compreendas que me ouças. tu és um criador mas não "o criador" aquele que segundo as vozes populares tudo pode. tu és apenas um artista. um artista é alguém que cria algo. não é um juiz.
a tua mulher deixou-te porque se cansou de aturar o teu egocentrismo, o teu "eu é que sei", "eu sou o melhor" "vê como todos me adoram", "repara como eu posso moldar as pessoas, como as posso fazer gostar do seu trabalho e de si mesmas mas, mas de sobretudo de mim"...
a tua mulher cansou-se e partiu. levou com ela o vosso filho mas nunca te impediu de o visitares, passaste a férias com ele (se não passaste todas foi porque preferiste deixá-lo com as avós e viajar a estar com ele ou levá-lo contigo).
podes levar o teu filho com as tuas companheiras. ele compreende tudo. ao contrário de ti que não entendes senão o insulto como forma de cuspires a raiva de saber que afinal nem toda a gente te acha o maior da nossa praça.
em mim hás-de acabar de perder a amiga se continuas a agir como um pequeno deus. tu sabes que eu não acredito em deus muito menos em ti. e a paciência para te ouvir horas seguidas a falar do mesmo, a teimar nessa ideia de que és mesmo tão bom que não entendes como ela te pôde substituir, essa paciência está a chegar ao fim.
não deixes que isso aconteça. acorda. e aceita que é muito bom ser humano. muito melhor que ser um pequeno deus. muito mais saudável. porque assim, pelo menos podes descobrir quem são os teus amigos de verdade e não essa montanha de aduladores que te seguem porque precisam do trabalhinho que lhes darás se souberem adular-te como gostas.

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