20 outubro, 2007

Saudades do meu tio da América


Eu tinha 7 anos quando o meu tio João da América me contou como tinha sido difícil começar a vida do outro lado oceano. Para que eu percebesse como tinha sido realmente difícil, para que eu entendesse que ele nem sempre tinha tido os bolsos cheios de dólares, o meu tio da América contou-me que quando chegou aos esteites a primeira casa que teve não tinha sequer um frigidére... eu fiquei tão aflita com aquela revelação que lhe perguntei logo se ele não podia sequer comer um ovinho estrelado. Então o meu tio da América soltou uma gargalhada bem sonora e apontando para o frigorífico da cozinha da minha avó, explicou-me que era aquilo o "frigidaire"...
Contava o meu pai que o tio João antes de ir para a América não era capaz de guardar dinheiro nenhum com ele. E ilustrava esta verdade com a seguinte estória: um dia o tio João chegou já tarde a casa e o meu pai já estava deitado no quarto que partilhavam e quase a dormir. Então o tio João deitou-se mas passado pouco tempo levantou-se e o meu pai perguntou-lhe se ele estava mal disposto. Ele respondeu que não mas que tinha recebido o salário semanal naquele dia e ainda não tinha gasto tudo, pelo que precisava de sair para a acabar de o gastar!
O meu tio da América não se tornou um homem forreta, muito pelo contrário gostava muito de dar presentes, mas não creio que tenha conseguido o que conseguiu tendo em NY o mesmo comportamento que tinha em Lisboa...
Tenho saudades tuas, tio.

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