24 outubro, 2007

Só por ler Hemingway

Senta-se à minha frente e olha-me com um ar muito assustado. Penso até que vai chorar. Terá 13 ou 14 anos. Deita olhares assustados ao rapaz que se sentou ao meu lado. Olho para o lado e parece-me que há parecenças entre os dois, depois olho para o rapaz sentado ao lado do miúdo e reparo que é um miúdo muito bonito, com um cabelo encaracolado bem cortado e torno a olhar o rapazinho. Fico sem saber o que pensar. O tipo que está ao meu lado não parece ter nada a ver com o miúdo apesar das parecenças... de resto só o vejo de perfil, é difícil perceber se estou certa... o metro pára na estação seguinte e o miúdo sai acompanhado do rapaz de cabelo encaracolado. O que está ao meu lado fica.
Começo a pensar que o miúdo me quis dar algum sinal. Mas não estou preocupada. Acho difícil ser assaltada enquanto me mantiver ali sentada.
Sentam-se então à minha frente dois homens indianos com ar de mafiosos. O que está no lugar que era do miúdo usa óculos escuros e o outro uma gargantilha e brincos a condizer... imitam ouro mas são pechisbeque. É estranho mas sinto-me muito segura com aqueles dois à minha frente. Como se fossem os meus guarda costas (neste caso frente) e o tipo ao meu lado não pudesse já causar-me qualquer dano.
Algumas estações depois os indianos saem e volto a sentir-me abandonada. Mas senta-se à minha frente um homem com um ar frágil. Lê um livro de Hemingway, não consigo ler o título mas volto a sentir-me segura apesar do ar frágil do homem. Afinal ele lê Hemingway, não é?

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