Quando conheci o meu tio da América ele já era careca. Eu achava piada ele ser tão parecido com a minha tia (irmã mais nova dele) que tinha uma linda cabeleira... o tio João era o mais novo de 3 irmãos dos quais a minha avó paterna era a mais velha. E ele vinha muitas vezes a Portugal ver as irmãs e o resto da família. Mas um dia resolveu convidá-las para irem aos esteites. Lá foi o meu pai levá-las ao aeroporto e elas passaram cerca de um mês por lá. Íamos tendo notícias por telefone. O tio João desdobrava-se para lhes mostrar o que de mais bonito e de melhor se fazia em NY e arredores.
Levou-as pois a um concerto de Frank Sinatra. Não é que eu alguma vez tenha sido uma grande admiradora do Frankie, mas havia nele qualquer coisa de mafioso, as estórias que se contavam a seu respeito que me encantava... nunca apreciei os homens muito certinhos e é por isso que não me queixo do que me tem calhado em sorte... pende-me o coração para esse lado mais escuro eu que sou tão transparente e tão cumpridora... busco certamente o equilíbrio. Pois sabem o que a minha avó me disse quando chegou a Portugal sobre o concerto? Ela que nunca tinha ido a sítio nenhum semelhante nem em Portugal, nem no mundo, nem nos arredores... Pois o que a minha avó me disse foi que "aqui também temos gente que canta muito bem". E ponto final no assunto. Quanto ao resto da viagem para além de lhe merecer um comentário semelhante, "cá também temos coisas muito bonitas", nunca mais disse uma palavra... A minha avó viveu a vida toda obcecada com o trabalho e com o "mando" como ela dizia. No dia em que foi atropelada e ficou bastante mal, alguém aproveitou para lhe tirar o "mando" e ela nunca mais se recuperou completamente... levou alguns 20 anos a morrer... chamava-nos (aos filhos e netos) de vez em quando para se despedir porque ia morrer... nos últimos amos já ninguém aparecia porque pensámos que ela era eterna. Afinal enterrou dois netos, um filho, os dois irmãos... e morreu ao 99 anos sem se despedir de mingúem...
Não tenho saudades desta minha avó. Era uma mulher distante e ríspida o que não é comum na família e que passava a vida a dizer "eu nunca disse que sou boazinha"... essa frase foi a única herança que dela me ficou. Digo muitas vezes " sou mázinha mas tal como a minha avó nunca disse que era boazinha"...
1 comentário:
Até podia não ser boazinha, essa tua avó, mas foi aos states e o Frank cantou para ela... Toma!!!
Quem sabe essa atitude não é a melhor... pró mando...
;))))))))
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