19 outubro, 2007

Apresento o meu tio da América.


O neto do último dos moícanos, vestido de forma sóbria e simples sobe a escada rolante na estação do Metro. Na carruagem comigo entra uma velha senhora americana, vestida desportivamente, sem grande aparato, a não ser os adornos em ouro americano, o cabelo pintado de louro e muito mal tratado, um boné branco na cabeça que não condiz com o resto bem como uns chinelos de "enfiar o dedo" de plástico e cheios de pedras brilhantes que eu diria terem sido comprados num "chinês"... e quase de certeza que foram, pois quem há hoje que possa dizer nunca comprei nada no chinês? Eu sei: contam-se pelos dedos de uma mão! Adiante...
Estas duas personagens (não me perguntem como é que eu sei que aquele homem vestido de cores neutras é o neto do último dos moícanos) é e ponto final, não faço parágrafo, fizeram-me recordar o meu tio da América.... pois é: o tio João, sempre carregado de presentes e dólares, oferecendo relógios em ouro (cá para mim comprava-os lá na Chinatown, só que nessa altura não havia chineses em Portugal senão os poucos que tinham os poucos restaurantes da especialidade... por falar nisso até já tenho saudades de ir à "Casinha Chinesa" se bem que a idade traz refinamentos e agora prefiro a comida japonesa e o serviço de excelência dos restaurantes japoneses... Mas voltando ao meu tio da América...
O João era mais velho uns anitos (poucos) que o meu pai e era tio dele... Aos 30 anos abandonou uma carreira de estofador em Portugal, fugindo a uma mulher que toda a vida o amou e a quem ele deixou grávida de uma filha que viria a ser imediatamente reconhecida quer por ele quer por toda a família mal nasceu...
Chegado a Nova York passou maus bocados como qualquer emigrante que se preza, mas resolveu apostar em si e fez um curso de decoração que fez dele um homem bem sucedido, não rico mas vivendo bem... Decorou várias casas de gente famosa e lembro-me perfeitamente do carinho com que ele falava de Bete Davis que segundo ele tratava toda a gente de igual para igual... quem diria com os papéis que fez ao longo da vida...
Quando o conheci ele tinha uma mulher porto riquenha chamada Inês e um filho da idade da minha irmã mais velha chamado John.
Estive com o meu tio da América várias vezes ao longo da vida e acho que vou voltar aqui para contar as suas estórias que são muitas e muito divertidas... Amanhã quem sabe?

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