10 setembro, 2007

Ao ilustre desconhecido

Há dias assim. Dias em que nos sentimos especialmente bem sem que para isso haja uma razão plausível. Pois é. Aqui há uns anos se eu tivesse acordado um pouco mais tarde como me aconteceu hoje teria ficado com o dia estragado. Mas a verdade é que nada dessas pequenas coisas me consegue já incomodar. Não corro. De atrasada não passo, portanto... tudo bem.
Ao contrário de mim, duas colegas estavam tristes, aborrecidas, neuras... a ponto de saírem dos seus andares para me procurarem e desabafar... da falta de perspectivas dos filhos em idade de começarem a trabalhar. Da insegurança que hoje os jovens sentem, da perturbação... bem, lá vou largando umas larachas pelo meio e acabam por ir mais bem dispostas do que chegaram... mas isto é realmente sintomático do país que temos. E piores dias virão. Portanto...
Saio do emprego e no metro reparo que há uma rapariga que me olha durante todo o percurso como se me reconhecesse mas não soubesse de onde ou não tivesse a certeza. Olha-me com a dúvida sobre se há-de ou não abordar-me. Olho-a naturalmente: tem cabelos negros e encaracolados naturalmente sobre uma pele muito branca. Lembro-me imediatamente quem ela me faz lembrar: a Branca de Neve dos contos da minha avó. Será que eu lhe fiz lembrar a bruxa ou um dos sete anões? Provavelmente nunca saberei... ela sai olhando-me ainda mas sem falar.
No comboio três homens exalam um cheiro a catinga de tal maneira que as pessoas apertam disfarçadamente o nariz. Eu não faço cerimónias. Aperto-o de maneira a que percebam que o seu cheiro é realmente insuportável, e logo que o comboio faz uma paragem, mudo de carruagem. Não suporto o mau cheiro seja ele de catinga ou de suor... lamento não ser mais discreta mas é assim.
Faço uma caminhada de 5 km antes de regressar a casa. Encontro um dos meus filhos negros que me faz uma festa. Estou feliz.
Já perto de casa, parada num semáforo vou olhando para o transito no sentido inverso. O automobilista do outro lado olha-me e pisca-me o olho maliciosamente. Respondo com um sorriso e penso quão raro se tornou este gesto de "flirtar" com desconhecidos, assim sem mais nem menos... Andamos todos muito ocupados? Pelos vistos, pelo menos hoje houve duas pessoas que tiveram tempo para uma inocente brincadeira que nos deixou um pouco mais felizes.
Por isso esta crónica hoje é dedicada a esse ilustre desconhecido que fez com que o meu dia acabasse em beleza.

1 comentário:

Bartolomeu disse...

"Pelos vistos, pelo menos hoje houve duas pessoas que tiveram tempo para uma inocente brincadeira que nos deixou um pouco mais felizes."
Não terão sido 5 pessoas?
Pensa melhor Maria Eduarda, acho que te estás a esquecer do 3 catingueiros.
Não contribuiram para a tua felicidade?
Hummm... não sei... quem sabe se apreciaste melhor o piscar de olho do ilustre desconhecido, precisamente por ires aborrecida com o odor dos catingosos?
Além de que aquele cheiro tambem podia ser uma inocente brincadeira. Lembro-me perfeitamente de quando andava no liceu, já dom os meus 13/14 aninhos, pela época do carnaval, comprar umas garrafinhas de mau cheiro e rebentá-las por baixo da secretária dos professores. Pfuhhh, era um cheiro insuportável dentro da aula.
:)))