Desembarco em Malta numa quinta feira do mês de Setembro de 2001. Os atentados às torres gémeas foram decisivos para eu me decidir a ir naquela altura a Malta. Queria muito conhecer o país há bastante tempo, mas depois de ter lido um romance que a filha de Pepe me emprestou A deusa Sentada de Helena Marques a vontade aumentou e decidi partir naquela altura porque sabia que para além de conhecer a ilha ia assistir ao desfile bélico dos EUA em direcção ao Afeganistão... afinal Malta fica em caminho e sempre foi plataforma para guerras...
Como dizia desembarco com 5.000$00 que aliás ainda hoje não percebo porque levantei no aeroporto de Lisboa antes de embarcar... daquelas coisas que nos parecem sem sentido mas se até a vida há-de ter um sentido, como não acreditar no sentido dos pequenos gestos? Enquanto espero pelo resto das pessoas que usariam o mesmo autocarro para o transfer dos diversos hotéis, dirijo-me a uma caixa multibanco para levantar liras maltesas... e vou metendo cartão após cartão e todos me dizem que não tenho saldo... começo a ficar nervosa, balha-me deus, puxo de um cigarro apesar de todas as proibições nas paredes (uma quantidade de gente andava por ali a fumar, acho que aquilo não era para levar a sério) e observo a mesma cena a acontecer a diversas pessoas que se dirigiam à caixa multibanco. Então pensei que a caixa estava avariada e fiquei mais descansada.
Finalmente chega um casal de ingleses, metemo-nos todos no mini bus e dirigimo-nos para os hotéis. Eles ficaram primeiro e eu fui a última a sair em Sliema. Entro no quarto e fico encantada. Parece um quarto de casa, não de hotel. Um guarda roupa dos antigos, uma cama das antigas, mesas de cabeceira à antiga, tudo fazendo parte do mesmo conjunto, mais uma escrivaninha. Abro a janela e entro numa varanda com vista para a baía de Sliema e fico encantada... sei que vou ter que me encontrar com alguém no hotel às 18 horas, o guia que me foi destinado mas tenho tempo para dar um giro e decido sair. À medida que avanço pela marginal de Sliema vou tentando levantar dinheiro em todas as caixas multibanco, mas nada: a mensagem é sempre a mesma: não tenho saldo.
De regresso ao hotel exponho o meu problema ao recepcionista de serviço, homem para os seus 60 anos que fica encantado quando sabe que sou portuguesa. Esteve cá a seguir à revolução, lembra-se sobretudo de Sintra e elogia o meu inglês. Explica-me que as caixas multibanco da ilha só funcionam à hora de expediente dos bancos, que não fique preocupada que amanhã conseguirei com certeza levantar dinheiro. Peço-lhe então que me troque os 5000$00 para poder jantar o que ele faz a um câmbio perfeitamente exorbitante...
Entretanto chega o meu guia. Explico-lhe que não vou precisar dos seus serviços que gosto de passear sozinha e ele diz-me que não há problema, em Malta posso até entrar em discotecas sozinha que ninguém me arranjará problemas (aqui enganou-se mas ele há excepções para tudo nesta vida!) Dá-me o número de telefone caso precise e sai.
No dia seguinte começo as minhas incursões pela ilha. Uma mistura interessante de árabes e italianos sobretudo, com alguns ingleses pelo meio. Os autocarros a cair de podre, com bancos arrancados e conduzidos por homens com a barba por fazer de 3 dias mas de uma simpatia sem igual... uma gente acolhedora, fantástica, meiga, do melhor que tenho encontrado no pequeno mundo que conheço fora do meu mundo de todos os dias...
Ah! já me esquecia: é claro que no dia seguinte consegui levantar dinheiro e a angústia de não saber como iria comer durante 7 dias num país desconhecido desapareceu para dar lugar ao encantamento e ao regresso todos os dias à encantadora capital La Valleta.
Um dia hei-de voltar, isso é certo!
4 comentários:
Quando voltares a Malta, leva-me na tua bagagem.
Na bagagem não que só tenho direito a 20 kg. Agora como parceiro de viagem quem sabe?
Assim ao jeito de Willy Fog e Passe Partout?
:))
Se achas que é desse jeito que queres, quem sou eu para te contrariar?
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