É o título do romance de Ondjaki que estou a ler e que me transporta a uma infância bem diferente da minha, mas contendo os mesmos cheiros e cores. Digamos que eu sou a tia Eduarda da estória de Ondjaki. Aquela que viveu em Luanda no tempo dos tugas, quando os pretos eram maltratados, pelo menos segundo a informação oficial que o menino que escreve tem e que não consegue confirmar com o camarada António que trabalha como cozinheiro para a família e para quem vinte minuto é tempo para tudo e para mais alguma coisa. Aquela que vive em Portugal aonde não são necessários cartões de racionamento e onde o presidente da república pode passear a pé ao domingo sem guarda-costas, ao contrário do presidente angolano que se faz rodear do aparato de dezenas de batedores que obrigam os condutores a pararem e sair dos automóveis para que haja a certeza de que ninguém tem intenção de cometer um atentado contra o presidente dos Santos.
Ondjaki como sempre escreve com muita cor. E tenho lido muitas estórias sobre a Angola pós colonial mas, só neste romance entendo a dimensão exacta em que vive o povo angolano. Talvez Ondjaki tenha a sorte de ser um puto novo e de ter começado a escrever numa altura em que a censura é menos rígida. Mas há uma coisa que ele tem que não tem nada a ver com sorte. É o talento de um contador. Por isso um dia destes comprei de uma vez três livros dele que ainda não tinha e estou inquieta para acabar este e começar o próximo.
Querido Ondjaki, recebe um beijo desta tua tia Eduarda que te dá os parabéns por seres só e apenas o que és: escritor!
Boas estigas!
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