13 agosto, 2007

Até logo.

Faltas-me tanto, pai! Tanta coisa que tenho para te dizer, tanta coisa que te digo... mas deixas-me assim, sem respostas, pai. Eu sei que não é porque queiras. Eu sei, pai. Não estou zangada contigo. Nunca me zanguei contigo. Nem quando me negaste a mota. Lembras-te? Pedi-te uma mota, todos os meus amigos tinham e tu olhaste para mim e disseste que não podias, porque não tinhas dinheiro. Fiz beicinho, disse que sabia bem que tinhas, que nunca me tinhas dado um presente que se visse... ainda não sabia nessa altura que os presentes não importam, descobri-o pouco depois, e tu replicaste que realmente para a mota tinhas dinheiro mas não tinhas para o meu funeral. E foi remédio santo, nunca mais te pedi nada. E não era preciso, pai, porque tu sempre me deste aquilo de que eu mais precisava... estavas presente mas nas tuas ausências prolongadas. Ainda guardo as cartas que me escreveste quando eu era miúda. Acho que foste tu que descobriste que eu gostava de escrever. Nunca deixavas uma carta minha sem resposta. Cartas de amor pai. Mesmo quando discutíamos o meu futuro, quando tu querias que eu fosse para um lado e eu ia para outro... eu bem te disse pai, isso ensinei-te, os conselhos se fossem bons não se davam, vendiam-se! Mas mesmo assim eu gostava de te perguntar a opinião. É claro que começavas logo por dizer, estás a perguntar para depois fazeres o que te apetece... e era pai, mas eu precisava de falar contigo, como preciso hoje. Tanta coisa para resolver e eu não sei como pai. Não quero magoar ninguém, não quero aumentar os problemas de ninguém, pai... tu sabes que eu tenho horror a maçar seja quem for é por isso que te escrevo, para ver se assim alivio este fardo a que não sei o que fazer.
Porque tu já não estás aqui, pai, apesar de ter vestido o teu pólo azul, aquele de que gostavas muito por ser fresquinho, apesar disso pai, não tenho respostas. Só o alívio de te ter aqui mais perto de mim.
Obrigada pai. Até logo.

1 comentário:

Bartolomeu disse...

Belíssima conversa/oração Maria Eduarda. Podes já só conseguir a sua voz dentro do teu coração, mas, a simples recordação das vossas conversas e dos seguros conselhos que recebias, apesar de teres a sensação de não acatar, são a erança que ele te deixou e que, servirão sempre de pilar de sustentação para as tuas tomadas de decisão.
Acredita Maria Eduarda, naquilo que recordas de ser a sensatez da opinião de teu pai, mas... sobretudo acredita em ti, és a sua semente, és o resultado dos seus ideais. Acredita Maria Eduarda, acredita que onde ele estiver, estará a pugnar pelo teu sucesso.